quarta-feira, 9 de maio de 2012

Manifesto Contraponto

Vemos se repetir ao passar dos anos na UNIFESP, um modelo de debate que propõe de forma exaustiva as seguintes indagações: “que universidade nós queremos?”, “que ideal de sociedade nós queremos”?”. Contudo, essencialmente nas últimas semanas do debate público que vem se intensificando na comunidade acadêmica, não é difícil perceber que tais questões jamais sairão do terreno vago das suposições se não respondermos a uma questão crucial que pontua todas as demais, nunca antes respondidas: “quais instrumentos dispomos nesse momento a fim de construir o movimento estudantil eficiente que queremos ver?”.

O modelo vigente de assembleias, comandos de greve e comissões coloca o estudante em uma situação limítrofe, onde aquele que opta por tornar pública a sua opinião, necessariamente tem de tornar pública a sua figura. Dessa forma, sua imagem fica exposta à avaliação rigorosa dos demais sob a pena – nada remota – de receber vaias e gritos de hostilidade. Assim, as assembleias revelam-se espaços de reprodução do senso comum, de rechace de opiniões adversas, de intolerância e de discursos autoritários e inflamados. Revela-se como espaços não da democracia, mas da aclamação da crítica vã e da retórica vazia, bem como espetáculos de hostilidade.

As assembleias, enquanto espaços de autogestão das atividades do corpo discente, devem ser lugares propícios ao diálogo, à tolerância e ao respeito. Todo e qualquer estudante deve ter sua fala assegurada e respeitada igualmente, independente de seus credos e filiações político-partidárias, religiosas, etc. Essa é uma condição sine qua non para que se garanta um movimento democrático, pois democracia sem pluralidade, sem diversidade, é uma ditadura da maioria sobre as minorias. É domínio faccioso sobre a variedade de opiniões dos estudantes do campi. Portando, declaramos aqui que não somos adeptos a esse modelo.

As discussões que temos realizado nos levam a concluir que esse modus operandi tão costumeiramente utilizado, e repetido por nosso movimento estudantil se mantém vigente primordialmente devido ao caráter ideológico atual, que surge com déficit de planejamento. A inexistência de entidades estudantis permanentes e de maior abrangência impossibilita, de um lado, a mobilização constante dos estudantes, e gera, de outro, o predomínio dos atuais grupos. 
Como consequência, temos a grave dificuldade de organização e de diálogo e, especialmente, de negociação com os poderes instaurados na universidade (as tão citadas burocracia e hierarquias acadêmicas). Como exemplo dessas dificuldades tivemos a demora de cerca de 2 semanas para a elaboração de uma pauta de reinvindicações. O histórico mais recente evidencia ainda mais a problemática: após mais de um mês da instauração da greve atual é que finalmente se formou uma comissão de negociação.

Esse atraso nos avanços da greve é fruto também da inversão lógica que tem sido feita das mobilizações estudantis. O desenvolvimento do movimento deve passar por algumas etapas, necessárias para a maturação das ideias e reinvindicações: 1) discussão da pauta; 2)negociação da pauta; e, por fim, se houver a resposta negativa dos poderes estabelecidos, 3) debate aberto sobre a necessidade de utilização do recurso de paralisação. O método inverso que é adotado pelos representantes atuais apenas tem gerado desgastes e frustrações.

Como dito, acreditamos que isso seja resultado da ausência de entidades de representação estudantil que dê às mobilizações um caráter de constância. 

Dessa forma, propomos:

1) que o movimento passe a se focar incansavelmente nas negociações, ao invés de agir de forma a enfatizar relações de força, que se revelam como formas improvisadas e autoritárias de comando. 

2) que formem-se grupos que avaliem aprofundadamente as demandas da nossa pauta, de maneira a poder esclarecer aos estudantes a viabilidade das demandas, os processos judiciais que lhe cabem e que apontem os poderes com os quais devemos negociar quando as reinvindicações não estiverem na esfera universitária, de forma que nossa luta seja clara e objetiva;

3) que inicie-se o processo de construção de um Diretório Acadêmico, que organize as discussões relativas ao estatuto do DA e forme um calendário visando o processo eleitoral pelo modelo de chapas;

Por fim, repudiamos:
1 ) o uso de “piquetes excludentes”, ou seja, a intimidação aos alunos que não aderiram a greve, de forma que isso apenas lhes afasta ainda mais das movimentações estudantis;

2 ) a falta de respeito nas assembleias, declaramos repúdio total às vaias. Reafirmamos que o movimento estudantil é um espaço de pluralidade, variedade, tolerância e respeito, e que as vaias condizem com espaços de alienação e não de emancipação;

3) o fim do espírito de “queda de braço”.É necessário dialogar com docentes, funcionários, e também com os as instituições burucráticas. As opiniões amplamente difundidas de que os docentes são “apenas reacionários” impedem o crescimento qualitativo do movimento e culminaram, após uma série de tensões e em desententimentos entre o movimento estudantil e os docentes.

Fabio Preturlon
Viviane Sanchez
Iann Longhini
Gabriela Helena Tingas
Rene Araujo
Silvia Helena Paiva Espindola
Eliete Della Violla
Angelina Michelle de Lucena Moreno
William Tomio Sinkai
Kathleen Angulo
Conrado Lima
Vinicius Bessi
Jonas Tavares de Souza
André S. Fernandes
Maíra Kikuti
Lima Carlos
Pamela Christy M. Muniz
Caio Fernando
Rachel Mugayar
Wilver Portella
Felipe Campos
Silvia Alcantara
Anderson Ferreira da Silva

O Contraponto é um grupo criado por e para estudantes da UNIFESP, e não tem nenhuma vinculação fora da Universidade.

2 comentários:

  1. Desde o começo da greve existe a Comissão de Diálogo. Diversas reuniões com os setores foram feitas. Diversas vezes foram pedidas Audiências Públicas com o reitor. O mesmo sempre se negou e continua a se negar. A única vez que nos recebeu foi depois da ocupação. Importante que todos assistam o vídeo.

    Muitos debates foram feitos e continuam sendo feitos acerca das nossas pautas. Hoje, por exemplo, receberemos dois advogados para debater a questão da criminalização dos movimentos sociais, o que está intimamente ligada a nossa reivindicação da retirada dos processos contra os 48 estudantes.

    A Comissão Jurídica já adotou e está adotando medidas junto aos caminhos 'burocráticos'. Denúncias, cartas, abaixo assinado, etc.

    O uso dos piquetes foi e continua sendo amplamente debatido no campus. Professores, inclusive, reforçam a necessidade dos mesmos. O Supremo Tribunal Federal já os julgou como um direito de greve, se não me engano.

    De fato, a contradição está posta. Faço um convite aos signatários que procure conhecer os trabalhos das diversas comissões formadas, como de Diálogo e a Jurídica, por exemplo.

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  2. Caro Henrique,

    Como fica claro no Manifesto, nossas propostas vão no sentido de propor alternativas às formas atuais de mobilização, inclusive com a intenção de garantir uma mobilização independente da greve. É evidente que para a construção desta crítica, temos conhecimento de tudo o que foi apontado acima.

    Caso restem dúvidas, fazemos o convite para que procure conhecer nosso trabalho.

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